terça-feira, novembro 21, 2006

Farsa

Otávio nunca foi bom nos textos que se propunha a escrever. tal constatação se torna evidente quando se encontra em tanta literatura que detesta. e afirma Otávio que não detesta por despeito, inveja, ou por lhe qualificarem como o mesmo. detesta porque para ele são como nada, são pior que nada, meras tentativas preguiçosas de contar algo que a ninguém interessa. e então quando Otávio procura um elogio de algo tão idiota que escreveu, esquece-se da infinita bondade das pessoas e acredita que todos também foram tocados com palavras que na verdade só fazem sentido para ele. Otávio observa a chuva, sai da literatura, e presta mais atenção nos objetos da sala - no peso de papel, na cadeira que dói as costas, nos livros. Otávio fuma, mas por charme. Otávio gosta de escrever para dizer-se culto, delicado. sempre descolado, se diverte em conversas cheias de sagacidade com meninas a procura de meias verdade e braços cruzando as costas, delas, mesmo imaginando, elas, que tudo é mentira. há que se fazer uma ressalva, pois quando pensa Otávio na bondade dos leitores, por vezes acerta em cheio no peito de três ou quatro moças, pobres vítimas de um ego voraz. Otávio quer, no fundo, durantes estes dois ou três dias de juventude, também enquanto outras diversões não aparecem, conquistar Madalenas.

Rapaz simpático, esse Otávio.