sexta-feira, dezembro 29, 2006

abate

No açougue, fez nojinho,
disse que não tocava no mignon
Eu me fiz de tolo,
mas depois cortei em bifes,
fatiei, e o que deu eu moí
Viúvo, fui jantar fora.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

regra de dois

o que nos separa, coração, é a economia. sempre te disse que as inversões seriam insuficientes para o trimestre. e você não quis me ouvir. ei, não gaste lágrimas, por favor, nos farão falta na entresafra. logo de início, na recessão, virão cobranças, do tipo você me paga, e com juros, eu sei. mas não é assim, eu juro. não saia distribuindo ressentimento. e me dê um desconto, pois as coisas por aqui também estão em crise. se peco pelas últimas ações, peço que inflaciones os bons momentos - são moeda forte se nossa idéia cambiar. o saldo final encontraremos em gráficos confusos, impressos em nossos rostos, em um futuro encontro(pura especulação), no qual proponho: poupemos as indelicadezas e eventuais detalhes sobre novos sócios. seria, convenhamos, falta de diplomacia. vou guardar os papéis, valem muito. não se desfaça de nada, vai que bate um déficit. pelo menos teremos um ao outro como dividendos.

terça-feira, novembro 21, 2006

Farsa

Otávio nunca foi bom nos textos que se propunha a escrever. tal constatação se torna evidente quando se encontra em tanta literatura que detesta. e afirma Otávio que não detesta por despeito, inveja, ou por lhe qualificarem como o mesmo. detesta porque para ele são como nada, são pior que nada, meras tentativas preguiçosas de contar algo que a ninguém interessa. e então quando Otávio procura um elogio de algo tão idiota que escreveu, esquece-se da infinita bondade das pessoas e acredita que todos também foram tocados com palavras que na verdade só fazem sentido para ele. Otávio observa a chuva, sai da literatura, e presta mais atenção nos objetos da sala - no peso de papel, na cadeira que dói as costas, nos livros. Otávio fuma, mas por charme. Otávio gosta de escrever para dizer-se culto, delicado. sempre descolado, se diverte em conversas cheias de sagacidade com meninas a procura de meias verdade e braços cruzando as costas, delas, mesmo imaginando, elas, que tudo é mentira. há que se fazer uma ressalva, pois quando pensa Otávio na bondade dos leitores, por vezes acerta em cheio no peito de três ou quatro moças, pobres vítimas de um ego voraz. Otávio quer, no fundo, durantes estes dois ou três dias de juventude, também enquanto outras diversões não aparecem, conquistar Madalenas.

Rapaz simpático, esse Otávio.

terça-feira, outubro 31, 2006

terça boba

Acho que tô conseguindo mudar a minha fase na escrita, mas o exercício é complicado e demorado.
"Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim..."
Começo escrevendo sobre uma cicatriz - acho que jamais imaginei criar em cima disso. O segundo é só pra justificar o dia bobo. Besteria.


Tiro ao Alvo

ileso, contradiz
a marca tua oriental
que levo deste lado esquerdo
flecha, cicatriz
leva segredo ancestral
truque usado em amor barato
desculpa, verniz
afugenta conversa banal
hipnotiza com o dedo
é chamariz
e da medo internacional


***

F.

se então transpuseres
meus super-poderes
em doces lazeres
eu largo os talheres
esqueço as mulheres
se um beijo me deres
só sobra misteres
carrego os halteres
os mil malmequeres
me torno um alferes
te pago choferes
sem mais afazeres
te passo as colheres
se a mim dispuseres
uns certos prazeres

domingo, outubro 08, 2006

sentiu pesar nos ombros a culpa inteira
pesou os prós e contras e quis de novo
o sempre e velho e eterno braço
e lamentou ver nos olhos tanto pesar
sem querer, apesar de nem considerar
ou descobrir outra ciência que lhe acalmasse
e melhor é nem pensar, lhe dissesse
antes fosse mentira
antes fosse motivo
antes fosse cansaço
e antes pensar e considerar ter calma
se bem lhe conviesse

****

Ao menos, pensando nela, as melhores músicas - elas - ficaram para mim.
Elas dizem a mim, querendo eu dizer a ela.

segunda-feira, agosto 21, 2006

outro mar

talvez este seja o texto onde eu menos me reconheça, o texto menos meu e que mais receio tive em publicar. mas deixo ele aí, e se não é meu, é livre, deixo ele fazer o que quiser. fui prum mar maior.

não queria escrever sobre mar.
e tinha o mar na cabeça, e tinha o sal nos olhos.
talvez escrever a chorar, tentando inventar razão de dor tão estranha.
que aparece em dois segundos e sangra por dois dias, parecendo morrer.
parecendo, pois ela volta, a dor.
muito na mesma figura, na mesma voz que admira a voz, sim, a sua voz.
a de quem escreve.
e se é outra voz, não é de estranhar que venha com a dor nos bolsos.
e se é de fato dor?
sim, pois se escreve dor e pouco se vive para precisar que raio é isso.
que é dor que se diz e nem se tem certeza.
algo lá que transita assim sem passaporte pela gente pode ter reconhecimento?
ainda mais algo assim, tão espalhado.
tão dentro desse diz que me diz de vida.
vai ver nem é dor.
vai ver é inseto que voa e vez por outra se perde e vem pousar na gente.
afinal, só com asa é que se pode ir e vir assim tão depressa.
tão banal feito avião no céu.
do céu não se tem pensamento, pois por hora é só mar que se vê.
e só nele se afoga.
mar que espalha nas vistas e embaça o filme na televisão.
e mar banal, marasmo de mar.
que chega e morre em dois segundos.
quem sabe mar é dor, e sempre fica alguém na beira.
pra esperar a onda com a dor morrendo.
e então tirar o mar dos olhos e viver enfim feliz.
até chover e alagar o coração, que é mar bravo.
mesmo com mares eternos.
mesmo com olhos cheios de sal.

quarta-feira, agosto 16, 2006

samba triste

Baseado nos textos Entreato e Dominical, de Constanza de Córdova Contrucci. Nossa primeira parceria (deve ser o sangue). Malas prontas.

Samba Triste

Blanquecina invadiendo la persiana, se arrastraba la luz por los corredores y todo era solo desorden. Cama, cajones, armarios, pensamientos. Ceniceros llenos, tazas vacías, zapatos y papeles, desparramados todos por el departamento, disputando el parco espacio con el cuerpo recién consciente en la cama, pues era, también, de algún modo, mañana. Así como todo el resto, se desparramaba el tiempo: dos y veinticinco con cara de nueve y treinta. Precisaba comprar cigarrillos, quien sabe beber un café. Abre el armario, excava pantalones, agarra una camisa, procura las chancletas, llave, sale. La calle por demás clara, también con gran movimiento para un domingo, que diablos, con permiso, mi señora. Salir molestaba, mejor era no gastar exposición. La panadería ruidosa y caliente, un expresso y un Marlboro, por favor, y decide también comprar un diario, tres reales, que absurdo, buenos días, digo, buenas tardes. La cafeína ayudaba a despertar, la calle por lo menos parecía más gris, y la mente ya arriscando establecer una simple organización. Una vez despierto, se inicia la caminada de vuelta, doscientos metros de la panadería hasta el edificio, poco, no fuera el maldito semáforo que no abre nunca, el carricoche atrabancando el paseo, y la pereza ahora es prisa. En casa, de vuelta, maldita llave que no abre, correspondencias, cuentas, carta no, ni estoy interesado en descuentos para llamadas internacionales. Resbala por el brazo del sillón y fuma, mira al lado. Pone un samba triste para tocar, junta el despelote en un monte y arrastra hacia un rincón, hasta poder circular y alcanzar el teléfono. La combinación numérica bien conocida fluye rápida entre los dedos y los botones, está llamando. La voz atiende muda, respira un ¿Hola?. Él podría conversar por horas, pasaría días hablando de si, risa casual, voz segura, fuerte. Pero solo contesta un soy yo, seguido de un suspiro del otro, qué tal, bien, y tu, bien, gracias. Más silencio, más suspiros, mira, no es una buena hora, te llamo después, ¿dale? Colgó el teléfono. El después será doce horas más tarde, cuando, llorando, ella llamaría y diría que sí, pero quería volver y quedarse en casa después de todo. Quedarse solo con si mismo en aquél departamento y con aquél olor de humo y perfume, hasta que la organización de las paredes y puertas y cosas reales creciesen y ganasen vida y lo escupiesen para la siempre calle, donde el mundo era muy claro y lleno y ruidoso y dolorido y frío. Hasta ahí, apenas los cigarrillos encendidos uno en el otro, y los dientes contra los labios sin culpa, y las muchas dosis de café al sonido de Jobim. Hasta ahí, él no limpiaría los ceniceros, tampoco cerraría los cajones o arreglaría la habitación. Él había prometido que estaría en la escuela, a la hora cierta.

Había llegado el día. El sonido acallado del ensayo de metales abría espacio, tímido, entre voces de personas en el interior del bar. La escuela de samba se concentraba, ella iba, lentamente, caminando por aquél recinto común, no fuera las máscaras y colores y confetes que componían la escena, pintando y mascarando la tenue realidad dominical. Alguien le sonrió. Su aire desplazado, su rostro limpio y su ropa la dejaban casi mezclada a la fiesta, como quién avisa, tímida y secretamente: "vai passar, vai passar...". La víctima en el escenario. Cantaba. Imágenes en blanco y negro giraban en su cabeza, todas las promesas no cumplidas a cada disparo, a cada fuga solitaria, a cada noticia leída en diarios de tres reales: crimen misterioso, fiesta termina en muerte, asesino desconocido, policía busca asesino. Amor. Cuando terminaba el amor. Había llegado el día.

Fue al baño, preparó su equipaje y volvió la escena del crimen. En el escenario, al fondo, el rostro que nunca estaba ahí. Una primera promesa cumplida. Ella se esconde por detrás de un tipo gordo, cerca de la puerta, en la distancia precisa del tablado. Apunta y dispara. La gente huye a los gritos, el cantautor y los ritmistas siguen la multitud y la policía, después de algunos minutos, encuentra en el bar un hombre muerto con un balazo en la cabeza, al fondo del escenario, y una mujer, en un rincón, cantando un samba triste, llorando sin lágrimas la muerte de su última victima, aquél que de tantas promesas, solo cumplió la menos importante.

“Poco entiendes mi mar
haz derramar las aguas
que guardo y no navegas
es impuesta, es cobrada la sal
no tener para donde ir
es lo que resta
es lo que resta”