não estar ligado a nada. nem palavras nem gestos nem silêncios. estar em si. ler drummond. gostar. ouvir chico e olvidar. querer cozinhar. desistir. sair só pra voltar. esquecer se ainda é dia. se já foi e não voltou. descuidar as janelas. ver o vento derrubar. esperar a chuva. se cansar. não descansar. escrever e apagar. escrever. duvidar. ignorar. acordar. lembrar que não dormiu. esquecer. esquecer.
***
"sentir é estar distraído"
Alberto Caeiro
quarta-feira, março 23, 2005
domingo, março 20, 2005
Manhã
Por que tudo haverá de acontecer nesta manhã?
Precisamos dar tempo ao tempo
Dar à tarde um motivo pra querer anoitecer
E o que serão das noites se nada as antecederem?
Não terão o peso de dias acabados
Talvez desapareça a escuridão de cidades
E sonhos de meninos só serão bonitos
Vamos deixar os sonhos para a tarde
Mais tarde...
Precisamos dar tempo ao tempo
Dar à tarde um motivo pra querer anoitecer
E o que serão das noites se nada as antecederem?
Não terão o peso de dias acabados
Talvez desapareça a escuridão de cidades
E sonhos de meninos só serão bonitos
Vamos deixar os sonhos para a tarde
Mais tarde...
domingo, março 13, 2005
E me parece tão bem
Distorcem-se palavras quando o vento
Sem saber por que disfarça
Teus cabelos noutros olhos
Lamenta não conseguir te alcançar
E chove!
***
Não é definitivo, acho que posso aumentá-lo a um poema de verdade...
Na verdade, chove! E sempre achei que depois de ouvir lamúrias de ventos haveriámos de ouvir e ver as lágrimas... Chorar faz bem, ou melhor, chover é bom!
Estou com a impressão que já é feita a noite, não ouso olhar a janela e me frustrar.
Sem saber por que disfarça
Teus cabelos noutros olhos
Lamenta não conseguir te alcançar
E chove!
***
Não é definitivo, acho que posso aumentá-lo a um poema de verdade...
Na verdade, chove! E sempre achei que depois de ouvir lamúrias de ventos haveriámos de ouvir e ver as lágrimas... Chorar faz bem, ou melhor, chover é bom!
Estou com a impressão que já é feita a noite, não ouso olhar a janela e me frustrar.
sábado, março 12, 2005
Te encontro no Cabaret
sexta-feira, março 11, 2005
Renovar
Com qual alma vens hoje me buscar
Será que dormes enquanto te esqueço
O não-queres
O não-podes
O negar e o não dar por isso
Acho que é falso
Escrevo poemas em vão
Jogo versos sem sentido
E quando então toco tua carne
É quando acordo
Ou não queres e não podes?
Será que dormes enquanto te esqueço
O não-queres
O não-podes
O negar e o não dar por isso
Acho que é falso
Escrevo poemas em vão
Jogo versos sem sentido
E quando então toco tua carne
É quando acordo
Ou não queres e não podes?
quinta-feira, março 10, 2005
Autogénese
Nascitura estava
sem faca nos dentes
cómoda e impura
de não ter vontade
de bater nas gentes.
Nasce-se em setúbal
nasce-se em pequim
eu sou dos açores
(relativamente
naquilo que tenho
de basalto e flores)
mas não é assim:
a gente só nasce
quando somos nós
que temos as dores;
pragas e castigos
foram-me gerando
por trás dos postigos
e um fórceps de raiva
me arrancou toda
em sangue de mim.
Nascitura estava
sorria e jantava
e um beijo me deste
tu Pedro ou Silvestre
turvo namorado
do verão ou de outono
hibernal afecto
casca azul do sono
sem unhas do feto.
Eu nasci das balas
eu cresci das setas
que em prendas de sala
me foram jogando
os mulheres poetas
eu nasci dos seios
dores que me cresceram
pomos do ciúme
dos que os não morderam;
nasci de me verem
sempre de soslaio
de eu dizer em junho
e eles em maio
de ser como eles
às vezes por fora
mas nunca por dentro
perfil de uma estátua
que não sou de frente.
Nascitura estava
e mais que imperfeita
de ser sorte ou dado
que qualquer mão deita.
Eu nasci de haver
os bairros da lata
do dedo que escapa
dos sapatos rotos
da fome que mata
o que quer nascer
e que o sábio guarda
em frascos de abortos;
eu nasci de ver
cheirar e ouvir
dum odor a mortos
(judeus enlatados
para caberem mais
mas desinfectados)
pelas chaminés
nazis a sair
de te ver passar
de me despedir
de teus olhos tristes
como se existisses.
Nascitura estava
tom de rosa pulcra
eu me declinava
vésper em latim:
impura de todos
gostarem de mim.
Natália Correa
sem faca nos dentes
cómoda e impura
de não ter vontade
de bater nas gentes.
Nasce-se em setúbal
nasce-se em pequim
eu sou dos açores
(relativamente
naquilo que tenho
de basalto e flores)
mas não é assim:
a gente só nasce
quando somos nós
que temos as dores;
pragas e castigos
foram-me gerando
por trás dos postigos
e um fórceps de raiva
me arrancou toda
em sangue de mim.
Nascitura estava
sorria e jantava
e um beijo me deste
tu Pedro ou Silvestre
turvo namorado
do verão ou de outono
hibernal afecto
casca azul do sono
sem unhas do feto.
Eu nasci das balas
eu cresci das setas
que em prendas de sala
me foram jogando
os mulheres poetas
eu nasci dos seios
dores que me cresceram
pomos do ciúme
dos que os não morderam;
nasci de me verem
sempre de soslaio
de eu dizer em junho
e eles em maio
de ser como eles
às vezes por fora
mas nunca por dentro
perfil de uma estátua
que não sou de frente.
Nascitura estava
e mais que imperfeita
de ser sorte ou dado
que qualquer mão deita.
Eu nasci de haver
os bairros da lata
do dedo que escapa
dos sapatos rotos
da fome que mata
o que quer nascer
e que o sábio guarda
em frascos de abortos;
eu nasci de ver
cheirar e ouvir
dum odor a mortos
(judeus enlatados
para caberem mais
mas desinfectados)
pelas chaminés
nazis a sair
de te ver passar
de me despedir
de teus olhos tristes
como se existisses.
Nascitura estava
tom de rosa pulcra
eu me declinava
vésper em latim:
impura de todos
gostarem de mim.
Natália Correa
quarta-feira, março 09, 2005
Só porque não gosto
Eu brigo com a poesia:
No rosto da tua vaidade
Vi aos passos meu destino
E bateu-me uma saudade
E nada mais faz sentido
A amargura vem chegando
A alegria vai partindo
... rasgue a página, desligue o monitor.
No rosto da tua vaidade
Vi aos passos meu destino
E bateu-me uma saudade
E nada mais faz sentido
A amargura vem chegando
A alegria vai partindo
... rasgue a página, desligue o monitor.
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