quinta-feira, maio 26, 2005

inverno

será preciso dormir por quanto tempo?
esquecer o dia que parece mil
nesta tua estrada tudo é tão comprido
assim tão de repente e porque és tão exata
mas decerto acalmo ao te ver contente
quieto, me ponho acesso, te lembro
te procuro em minhas mãos, não te encontro
lamento o meio desconsolo, busco teu seio
então me recorto e te sobreponho
e és meu espelho, refletes saudades
e neste frio não programado, surpreendente
a luz se apaga e contigo sonho
e o dias não passam, num inverno meu não da gente

depois deste inverno,
segura minha mão?

Ficas (numa semana de pensamentos longe, lá no sul)

domingo, maio 08, 2005

jogos

gosto da tua meninice
de deixar de lado as coisas importantes
quando te apegas a um brinquedo qualquer
lembrando-me ainda que és tão inocente
que vives tão a leste de meu país
tão oeste sou, já me pus tantas vezes
enquanto nasces a cada dia, sem dormir
quem sabe sem despertar, vives reticente
em sonhos que não terminam
...
sim, medo eu tenho, de descobrir
que quem há de acordar
é o menino, deslumbrado
ao ver que te apegas a brinquedos
que não nos pertencem.

Ficas (algum tempo atrás)

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Querendo fazer sombra (ou talvez diminuir a culpa) no que escrevo, indico-lhes (com pretensão de que sejas plural):

A bela e pura

A bela e pura palavra Poesia
Tanto pelos caminhos se arrastou
Que alta noite a encontrei perdida
Num bordel onde um morto a assassinou.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar novo (1958)